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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Comidas e sentimentos

Minha cunhada está viajando. Mochilando pela Europa, vendo e conhecendo um monte de coisas interessantes. E quase todo dia ela nos manda um "diário de bordo", com as peripécias do dia: onde ela está, o que está vendo, o que está amando, o que está detestando, enfim. Eu fico aqui esperando ansiosa pelos relatos do dia. Viajar, mesmo que pelos olhos de outra pessoa, é sempre gostoso.
Mas tem algo que quero saber e que ela não fala muito nos diários. Talvez por achar irrelevante. Sei lá. Sei que estou curiosa sobre Comida. Sim, com letra maiúscula, porque este pra mim é assunto dos mais importantes. Ela só deu uma dica: pediu pra minha sogra preparar arroz-feijão-bife quando ela voltar.
Esta dica diz muito e diz nada. Diz nada porque todo brasileiro que fica uma semana fora do país sente uma saudade atroz do arrozinho com feijão. Até quem normalmente não dá a mínima pra dupla. E diz muito porque significa que ela está com saudade. De casa, da família. De rostos conhecidos. De entender o que as pessoas falam.

A língua da comida
Acho que a comida diz muito sobre o lugar e sobre as pessoas. A culinária de um país diz mais sobre ele do que mil livros de história. Usa-se principalmente ingredientes frescos ou em conserva, defumados, curados? Privilegia-se o sabor original dos ingredientes, ou o uso de molhos e cremes? Qual a base da alimentação? Come-se normalmente em casa ou fora? Orgânicos? Industrializados? E quando você vai investigar o por quê, lá está a explicação, em algum lugar da história ou da geografia. E o que se come e como se come moldam os costumes. E vice-versa. Você chega na França e percebe que não adianta ter pressa. Um almoço normal consta de pelo menos três pratos, servidos separadamente e um depois do outro. Dificilmente o ritual leva menos de 2 horas. E pra que pressa? Tente pedir ao garçom para mandar tudo de uma vez e ele não vai entender e a culpa nem é do seu francês macarrônico. É que a idéia de comer tudo rapidinho ao mesmo tempo não faz sentido para ele. Você vai aos Estados Unidos e consegue fazer uma refeição em 15 minutos, de pé (aliás, andando). A comida é deliciosa, especialmente pra quem adora junk food como eu, mas depois de algum tempo você percebe que o frango a milanesa do restaurante A é exatamente idêntico ao do restaurante B. Que os temperos das saladas, apesar de deliciosos, são iguais em todos os lugares. Que tudo leva molho barbecue. O conceito de igualdade levado às últimas consequências? Talvez...

Memória gustativa
Comida, sentimento e memória estão interligados. São inseparáveis. Sabores de infância trazem conforto e segurança durante a vida toda. Os meus são pão com manteiga e café, frango a passarinho, purê de batata e polenta. Pão de minuto. Sonho.

Kid's Menu
Quem viaja com crianças sabe como é. A gente fica procurando opções menos "estranhas" para eles. Coisas menos picantes ou pesadas, que não irritem um estômago normalmente mais delicado. Mas, quase sempre, o tal kid's menu é uma tristeza. É só blablablá com fritas. Queijo quente com fritas (e isso lá é almoço?). Sanduíche de pasta de amendoim com fritas. Salsicha com fritas. Fritas com fritas. Daí a gente desencana e divide o nosso prato com a criança. Ela adora e come super bem. E, ironicamente, nós, adultos, é que acabamos mal do estômago/fígado. Enquanto as tais crianças de estômago delicado nem acusam o golpe.

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