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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Alalaô

Talvez eu ande meio mau humorada. Talvez eu ande meio cínica. Mas meus planos para a semana que vem incluem uma pilha de DVDs, um monte de livros, o rádio solidamente desligado e um rockzinho tocando o tempo todo.Espero não ser atingida por nenhum confete. Pretendo não ver nenhum desfile.
Chata? Talvez. Mas o fato é que nunca gostei de carnaval. Gosto muito de ter um feriado de 4 dias e meio. Mas não do carnaval.
Gente demais partilhando o mesmo espaço. Alegria demais, sem motivo nenhum. Isto me apavora um pouco. Onde todos vêem uma festa eu vejo mesmo é histeria coletiva. Vejo a exaltação das nossa piores qualidades. E tenho a impressão que a coisa toda piora a cada ano.
E tenho dito.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Algumas coisas

- Não postei muito nesta semana, mas tô de volta.

- Por enquanto esta edição do BBB está pra lá de chocha (xoxa, xocha, choxa... sei lá). Tô totalmente sem paciência.

- Acho um saco estes feriados municipais. Parte da minha vida fica de férias, parte da minha vida não. Um feriado municipal numa cidade enorme como São Paulo deveria abranger os municípios vizinhos. Eu ia gostar!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Heroes - finalmente!

A segunda temporada de Heroes começou. A série continua maravilhosa. Na primeira temporada havia o Sylar, serial killer que roubava os poderes dos outros "mutantes". No final, aparentemente o Sylar foi morto. Aparentemente, pois em Heroes, tudo pode acontecer. E nesta temporada, novos mistérios. Quem está eliminando os bam-bam-bans? Que vírus é esse que está se espalhando? Hiro vai conseguir ajudar Takezo Kensei? O que aconteceu com Peter Petrelli? Agora é isso: fico esperando pelas sextas-feiras.....

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Coisas que li - parte 4

Enquanto não começa a segunda temporada de "The Tudors" e a People and Arts não faz a gentileza de reprisar os capítulos (reprisar pra que, não é mesmo?) percebo que não faz sentido ficar sofrendo de curiosidade. Afinal de contas, os próximos acontecimentos são de domínio público! Bem, comecei então minha pequena pesquisa lendo "A Princesa Leal", de Philippa Gregory. O que não é bem uma pesquisa, já que o livro é um romance e não um relato histórico. Mas serviu pra entender melhor a complexidade da história entre Catarina de Aragão e Henrique VIII. Os interesses e motivações de cada um. A história de cada um. Este livro é um mergulho interessante na cabeça de Catarina e mostra como ela foi preparada, desde criança a ser uma rainha. E sua recusa em aceitar o que parecia ser o destino.

Assim que terminei, ataquei "O azul da virgem" de Tracy Chevalier. Li rapidinho, porque a estória é envolvente. Mas, na boa... Ah sei lá.... Não gostei muito. Superficial, batido. A parte mais interessante, que diz respeito à ligação entre Ella Turner e Isabelle Tournier, fica no ar e meio mal explicada. Aliás, insinua-se muito e explica-se pouco. A estória oscila entre romance, terror e suspense. E fica lá, oscilando até o fim, sem se definir. Quando virei a última página tive a impressão de que faltou alguma coisa.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Contos de fadas

Passamos a infância inteira lendo e ouvindo contos de fadas. Estorinhas fofas e frufrus com princesas lindas e bondosas que encontram seus príncipes encantados, casam-se e são felizes para sempre. Ahã. Mas convém não prestar lá muita atenção. Senão vejamos:

- Cinderela sofre feito um cão. Fica órfã, a madrasta a maltrata e toma para si todos os bens da família. Daí a fada madrinha a ajuda, ela vai ao baile, o príncipe e ela se apaixonam. No dia seguinte o príncipe a identifica pelo sapatinho de cristal, eles se casam e são felizes para sempre.
Mensagem: não lute pelos seus direitos, espere somente pela justiça divina. Aliás, não se preocupe em fazer um testamento que proteja seus filhos. A sorte cuida disso. E, ser identificada pelo número do sapato! Francamente. Pior que isso só se o príncipe a identificasse pela arcada dentária!

- A Bela Adormecida foi amaldiçoada por uma bruxa malvada que não havia sido convidada para sua festa de batizado. Uma fada amenizou a maldição: a princesa ficaria somente adormecida até que um beijo de amor verdadeiro a despertasse. O príncipe veio, a beijou, eles se casaram e foram felizes para sempre.
Mensagem: se o cara te salvou, nada importa: case-se com ele. E preste sempre muita atenção na lista de convidados.

- A Pequena Sereia desafia seu pai, abre mão de sua cauda para se tornar humana e poder ficar perto do príncipe. O príncipe se apaixona por ela e, após alguns percalços eles se casam e são felizes para sempre.
Mensagem: seus pais não sabem de nada e abrir mão de sua identidade é uma ótima idéia. O importante é casar. (olha o perigo....)

- Branca de Neve foi uma precursora da Cinderela. O pai também não se preocupou com o destino dela, que caiu nas garras de uma madrasta que de quebra era bruxa e malvada e quis matá-la por inveja. É pouco? Pois quando a madrasta conseguiu que ela fosse dada como morta, após 3 tentativas, os anões a colocam num caixão de vidro (coisa mórbida...). Um príncipe a vê, se encanta por ela, a beija, quebra o encanto e ela acorda. Daí eles se casam e são felizes para sempre.
Mensagem: confiar cegamente nos outros é legal. E príncipe necrófilo ainda assim é príncipe e tá valendo. O importante é casar.

E por aí vai. Tudo se resume a casar. Não importa que o príncipe seja tão desatento que só reconheça seu amor pelo número do sapato. Ou seja necrófilo. Ou que você precise abrir mão de quem você é. É assustador pensar que todo mundo recebe estas mensagens durante a infância. Talvez isso explique porque o mundo anda do jeito que está.
Mas também não acho que seja o caso de privar as crianças dos contos de fadas. Eles têm sua importância e eu estou exagerando, é claro. Só penso que, vez por outra, seria bom introduzir uma estória nova, atualizada. Uma princesa que se preocupe com outras questões além do amor eterno. Uma princesa que proponha se casar mais tarde, após concluir os estudos. Uma princesa que saiba se defender e lutar por seus direitos.
Eu, particularmente gosto da versão que eu creio ser a original da Pequena Sereia. Nela, a sereia troca a cauda por pernas, não somente pelo príncipe, mas por desejar ser humana e ter uma alma imortal. Mas nada dá certo. O príncipe se casa com uma outra princesa e a sereiazinha morre, sem ter conquistado sua alma. Triste. Mas ao menos mostra que devemos respeitar nossa própria natureza.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Comidas e sentimentos

Minha cunhada está viajando. Mochilando pela Europa, vendo e conhecendo um monte de coisas interessantes. E quase todo dia ela nos manda um "diário de bordo", com as peripécias do dia: onde ela está, o que está vendo, o que está amando, o que está detestando, enfim. Eu fico aqui esperando ansiosa pelos relatos do dia. Viajar, mesmo que pelos olhos de outra pessoa, é sempre gostoso.
Mas tem algo que quero saber e que ela não fala muito nos diários. Talvez por achar irrelevante. Sei lá. Sei que estou curiosa sobre Comida. Sim, com letra maiúscula, porque este pra mim é assunto dos mais importantes. Ela só deu uma dica: pediu pra minha sogra preparar arroz-feijão-bife quando ela voltar.
Esta dica diz muito e diz nada. Diz nada porque todo brasileiro que fica uma semana fora do país sente uma saudade atroz do arrozinho com feijão. Até quem normalmente não dá a mínima pra dupla. E diz muito porque significa que ela está com saudade. De casa, da família. De rostos conhecidos. De entender o que as pessoas falam.

A língua da comida
Acho que a comida diz muito sobre o lugar e sobre as pessoas. A culinária de um país diz mais sobre ele do que mil livros de história. Usa-se principalmente ingredientes frescos ou em conserva, defumados, curados? Privilegia-se o sabor original dos ingredientes, ou o uso de molhos e cremes? Qual a base da alimentação? Come-se normalmente em casa ou fora? Orgânicos? Industrializados? E quando você vai investigar o por quê, lá está a explicação, em algum lugar da história ou da geografia. E o que se come e como se come moldam os costumes. E vice-versa. Você chega na França e percebe que não adianta ter pressa. Um almoço normal consta de pelo menos três pratos, servidos separadamente e um depois do outro. Dificilmente o ritual leva menos de 2 horas. E pra que pressa? Tente pedir ao garçom para mandar tudo de uma vez e ele não vai entender e a culpa nem é do seu francês macarrônico. É que a idéia de comer tudo rapidinho ao mesmo tempo não faz sentido para ele. Você vai aos Estados Unidos e consegue fazer uma refeição em 15 minutos, de pé (aliás, andando). A comida é deliciosa, especialmente pra quem adora junk food como eu, mas depois de algum tempo você percebe que o frango a milanesa do restaurante A é exatamente idêntico ao do restaurante B. Que os temperos das saladas, apesar de deliciosos, são iguais em todos os lugares. Que tudo leva molho barbecue. O conceito de igualdade levado às últimas consequências? Talvez...

Memória gustativa
Comida, sentimento e memória estão interligados. São inseparáveis. Sabores de infância trazem conforto e segurança durante a vida toda. Os meus são pão com manteiga e café, frango a passarinho, purê de batata e polenta. Pão de minuto. Sonho.

Kid's Menu
Quem viaja com crianças sabe como é. A gente fica procurando opções menos "estranhas" para eles. Coisas menos picantes ou pesadas, que não irritem um estômago normalmente mais delicado. Mas, quase sempre, o tal kid's menu é uma tristeza. É só blablablá com fritas. Queijo quente com fritas (e isso lá é almoço?). Sanduíche de pasta de amendoim com fritas. Salsicha com fritas. Fritas com fritas. Daí a gente desencana e divide o nosso prato com a criança. Ela adora e come super bem. E, ironicamente, nós, adultos, é que acabamos mal do estômago/fígado. Enquanto as tais crianças de estômago delicado nem acusam o golpe.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Crime do Masp - um comentário inútil

Quem assistiu Onze Homens e um Segredo e não saiu do cinema com vontade de assaltar um cassino? Hein? Aquele plano brilhante, a execução perfeita, o trabalho em equipe, a esperteza, o charme. Daí, você chacoalha a cabeça e se lembra de que os caras são bandidos. Tão bandidos quanto aquele pé-de-chinelo-banguela-semi-analfabeto-que-rouba-celular-e-se-acha-muito-esperto. Mas, imagine que os Onze Homens tivessem sido presos. E que tivessem ficado na mesma cela do tal pé-de-chinelo. O moleque olhando para os Onze, os olhinhos brilhando de admiração, pedindo para saber como foi o plano, quem fez o que, como bolaram o plano? E os Onze olham pro moleque e respondem: "Você não entenderia. ". E é verdade, o pé-de-chinelo não ia entender nunca. E ele continua olhando para os Onze, deslumbrado.
Agora imagine o pé-de-chinelo de novo só que agora na mesma cela dos assaltantes do Masp. Quando fica sabendo que eles assaltaram o maior museu da América Latina, ele olha para os caras, os olhinhos brilhando de admiração, pedindo para saber como foi o plano, quem fez o que, como bolaram o plano? E eles respondem: "Ah, abrimos a porta com um macaco hidráulico, tiramos os quadros da parede, enfiamos debaixo do braço e saímos andando.". Anti-clímax total.

BBB, Heroes e eleições americanas

- A cada edição do BBB, o Kibeloco cria o fantástico BBBizarro. Você está lá assistindo BBB e acha aquele cara meio parecido... com quem mesmo? E aquela menina, parece a... qual o nome mesmo? Pois então. O BBBizarro responde estas importantes questões pra você.

- Faltam 24 horas e 42 minutos para a nova temporada de Heroes.

- O Biscoito Fino e a Massa explicou bem explicadinho o perfil de cada um dos candidatos à presidência americana. Até eu entendi.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Sabores inesquecíveis - Top 5

5 - Moqueca de lagosta em Jericoacoara.
Em uma tarde quente de janeiro, há quase 15 anos, eu estava sentada num restaurantezinho bem pequeno, simples e familiar a beira do mar, em Jericoacoara. Na época, Jeri começava a ser conhecida. O lugar estava se preparando para receber turistas. Os poucos hotéis da época ofereciam uma estrutura pouco melhor do que os albergues em que eu estava ficando naquelas férias. Sentei-me numa mesinha praticamente na areia e pedi a tal moqueca. Mal sabia eu que em poucos minutos eu estaria saboreando um caldo de aroma indescritível, e uma quantidade surpreendente de carne de lagosta, fresquíssima, tenra, no ponto exato. Acompanhando, a indefectível cerveja abaixo de zero. Ah....

4 - Arroz com carne moída
Estávamos nos preparando para subir o Pico da Bandeira. Para tal, passamos o dia inteiro caminhando, subindo morro, descendo morro, nadando em cachoeira, andando, andando e andando. Até chegarmos no acampamento ao pé do pico, onde dormiríamos até as 3:00 da matina, quando começaríamos a subida propriamente dita. Bem, apesar da mordomia de não carregarmos nossas barracas, isolantes térmicos, casacos, agasalhos extras e pantufas de coelhinho, que já haviam sido despachadas de mula (vantagem em se fazer ecoturismo com pacote turístico), estávamos m-o-r-t-o-s de cansaço e famintos. Olhando ao redor, víamos as outras pessoas, que haviam ido por conta própria, degustando suas sopas maggi. Olha, aquilo já parecia um manjar dos deuses. Mas o que aconteceu foi que, enquanto estávamos decidindo se tomávamos banho ou não, já que o sol já tinha se posto, o vento estava gelado e o que saía dos chuveiros disponiveis era a mais pura e gélida água mineral.... os guias estavam preparando a comida. Que nós imaginávamos ser a tal sopa em pó mesmo. Mas, surpresa: tinha arroz, carne moída, milho e ervilha. E tudo quentinho! Gente, naquele momento, aquela era a melhor comida do mundo, comemos como um bando de refugiados de guerra. Durante esta viagem, esta refeição só empatou com o café da manhã do dia seguinte: capuccino quentinho e pão com manteiga, vendo o sol nascer no topo do pico.

3 - Crepe de rua em Paris
Lua de mel. Cidade Luz. Só isso já bastava. Mas não. Tinha mais, muito mais! Eu sou fã de comida de rua. Gosto mesmo. Evito aquelas coisas muito perniciosas, que podem levar à salmonela ou à morte fulminante. Mas confesso que salivo toda vez que passo por uma máquina de churrasquinho grego. E Paris tem boa comida de rua. Hot dogs de respeito, feitos com salsicha de qualidade e beeeem maiores que o pão. Sanduíches frios, prontos, a preços populares e recheados com presunto de parma, queijo brie, pecorino. E crepes! Deliciosos, assados na hora, com queijo e presunto e salpicados de pimenta do reino fresca. E acompanhado de uma taça de vinho. Tão simples e tão bom. Em boa companhia, em um lugar lindo, melhor ainda.

2 - Espaguete a putanesca
Foi o primeiro prato que um namorado preparou para mim. E preparou tão bem que virou marido.

1 - Frango a passarinho da minha mãe
Eterno. Este é um sabor de infância, um tipo especial de comfort food. Engraçado que quando se fala em comford food, penso logo em coisas cremosas, que não exijam muita mastigação. Mas fazer o que, meu comfort food é diferente. Comer o frango a passarinho que minha mãe faz (e só vale este, nenhum outro funciona) é voltar ao tempo em que se parava o carro no acostamento para fazer um lanchinho nas viagens. É voltar às viagens em família, todos juntos no carro, olhando pela janela, esperando pelo primeiro pedacinho de mar aparecer. É voltar a um tempo mais simples e mais fácil. É comer um belo bocado de nostalgia. Até hoje, quando fico meio desanimada, ou cansada ou qualquer coisa do gênero, sinto vontade de provar um daqueles pedacinhos dourados, crocantes, sequinhos e perfeitamente temperados de frango.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Harry Potter

Amo. Adoro. Os livros. Os filmes. Tudo. A estória tem rombos de 5 km de diâmetro, mas nem ligo. Tem alguns diálogos didáticos e um bocado cansativos. Mas novamente, nem ligo. Acho que isto é o que define este tipo de leitura. É uma leitura de entretenimento. Você quer se manter envolvido naquele mundo, naquela estória. E só. Você quer diversão. E só. É como quando você quer comer um hamburguer com fritas e coca-cola. Você não está interessado no valor nutricional, na harmonização dos sabores e nem no talento do chef. Você só quer o sabor, o crocante, o salzinho. O que não significa que você não saiba apreciar um bom prato ou um sabor mais sofisticado. Sim, você sabe. Mas não agora.

A Menina que Roubava Livros

Contrariando algumas sugestões (né, Shi? não adiantou... era esse que eu queria ler...), terminei de ler A Menina que Roubava Livros. Triste, muito triste. A Morte, narradora da estória, definiu bem a tal menina: "uma especialista em ser deixada para trás". Porque é isso que vai acontecendo ao longo da estória. Um a um, todos os que a amam vão partindo. Novas pessoas chegam somente para partir logo depois. A narrativa é bem feita. Como disse, a Morte é quem narra a estória e ela gosta de cores. Logo no começo, ela explica que primeiro ela enxerga as cores e, somente depois, os contornos. Os comentários dela, aqui e ali, descrevendo a cor de uma alma resgatada, ou do céu, ou do horizonte ressaltam ainda mais a sensação de que todo o resto, da paisagem e do mundo, é cinza. Tudo é cinza, tudo é frio. A fome está sempre lá, espreitando. Sempre. Na descrição da eterna sopa rala de ervilha, do menino constantemente esfomeado, das costelas e omoplatas aparentes, das porções cuidadosamente calculadas. O final não traz alívio nem explicação. Somente uma pequena alegria, que de tão pequena comparada às catástrofes e abandonos em sua vida, é quase nula. E o que há para se explicar numa estória já tão explorada? A estória de Liesel, a ladra de livros, é a estória de muitos. É a estória de todos os párias.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Papo de anjo

- Então... você é um anjo, é?
- É. Sou.
- Cadê suas asas?
O anjo suspirou e revirou os olhos. E ele que nem sabia que anjos reviravam os olhos...
- Sempre esta pergunta! Que coisa. Quando você fala que é um bípede alguém pede pra ver suas pernas? Que grosseria. Francamente!
A indignação angelical é uma coisa surpreendente.
- Desculpe aí, foi mal....
- Tudo bem, sem problema.
- É que, sei lá. Nunca estive assim, cara a cara com um anjo. Tenho tanta coisa pra perguntar que nem sei por onde começar.
- Pode perguntar o que quiser. Só, por favor, vamos excluir perguntas anatômicas, ok? Parece que vocês humanos só conseguem pensar nisso: o sexo dos anjos, o umbigo de Adão, asas...
Quem diria: anjos também têm perguntas proibidas.
- Não é pergunta proibida. É só que tem coisas muito mais relevantes para o público. Por que não falar sobre nosso trabalho?
E não é que eles lêem pensamentos?
Novo suspiro, novo revirar de olhos. Resolvo fazer logo minha pergunta, antes que o anjo perca a paciência.
- Olha, se Vossa Santidade...
- Vossa Santidade? E eu lá sou papa?!
- Desculpe, mas nunca falei com um anjo antes, não sei como me dirigir a vocês....
- Tudo bem, tudo bem. Pode me chamar de Zé.
- O quê?
- Algum problema com meu nome?
O anjo já estava ficando irritado novamente. Eu só estou dando fora!
- É que achei que nome de anjo terminasse sempre com "el". Sabe como é... Lelahiel, Helahiel, Ahadiel....
E agora foi minha vez de ficar invocado com a risadinha zombeteira do anjo.
- Ah, isso... foi coisa do Miguel, aquele piadista. Pegou um humano impressionável e deu a entender que todos os nomes rimavam com os dele. Sabe como é. Tirando um sarro. Daí o cara levou a coisa sério, como uma revelação e divulgou no mundo todo. Hahaha.
- Hum. Ok. Certo.
Fazer o que. Fiquei desconcertado.
- Olha... Zé... o que eu quero saber é qual a função de vocês aqui na Terra.
- E qual a sua função aqui na Terra?
- A minha?
- É, a sua.
- Não sei...
- Se você não sabe nem a sua, por que quer saber a minha?
- É que... ahn... eu...
- Próxima pergunta.
- Hum, bem. Vocês existem desde o início do universo?
- Sinto muito mas não posso responder a esta pergunta.
- Por que não?
- Restrição contratual.
- ?
- É. Há uma cláusula de confidencialidade no meu contrato de trabalho que devo respeitar. Esta pergunta viola a cláusula.
- Contrato de trabalho? Vocês também têm isso?
- Claro, por que não? Também temos direitos, oras.
Momento de silêncio.
- Então, vai me fazer mais alguma pergunta? Minha agenda é meio cheia.
Pra falar a verdade, eu estava ficando sem perguntas. As poucas respostas invalidaram as outras perguntas. As que não foram invalidadas eram de cunho anatômico. Não sabia o que perguntar.
- Posso sugerir uma?
- Hã?
- Posso sugerir uma pergunta, já que você está sem idéias?
- Sim, claro....
- Pergunte meu sabor preferido de sorvete.
- Sabor de sorvete?
O anjo estava exasperado. Divertido, mas exasperado.
- É impressionante como vocês humanos não se interessam pelas coisas relevantes!
- Bem, então, qual o seu sabor preferido de sorvete?
- Flocos! - repondeu o anjo, feliz por eu ter finalmente parado de fazer perguntas cretinas.
- Agora, sinto muito mas seu tempo acabou. Preciso ir. Outros compromissos...
- Ah. Certo. Obrigado... Zé.
***
Entrevistar um anjo foi muito mais difícil e revelador do que eu imaginava. Eu ainda fiquei observando enquanto o Zé ia embora, para ver se ele ia se desmaterializar, ou sair voando, sei lá. Para minha decepção, ele levantou o braço para chamar um táxi, entrou e partiu acenando. Na minha decepção, por pouco não vejo uma grande pena branca, muito macia e brilhante, vir voando devagar, flutuando graciosamente no ar. E parar finalmente na ponta do meu nariz.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Coisas que li (e ouvi) - parte 3

Gosto de música brega dos anos 70. Pronto. Falei. Quase todo mundo que me conhece já sabia, mas quem não sabia ficou sabendo. Isto é praticamente um atestado de mau gosto, mas em minha defesa, digo que só ouço músicas péssimas com fone de ouvido, para não incomodar meu semelhante. Ou sozinha. Ouvir alto e cantar junto, só mesmo no trânsito, onde posso incomodar apenas os motoboys. Mas eles merecem, então tá tudo certo.

Pois então tem uma música que eu adorava quando era adolescente. Era cantada por uma mulher de voz estridente e eu achava o máximo. Por muito tempo cantarolei esta música em embromation, já que não sabia, nem entendia a letra. Pra piorar, não sabia nem o nome da música nem da cantora (como é que a gente sobrevivia sem a internet, hein?). Um dia descobri: “Wuthering Heights” de Kate Bush. De quebra descolei a letra. Beleza, já podia cantar junto, mas não entendia patavinas. Que é isso? Uma mulher chamada Cathy, avisando para um tal de Heathcliff que estava voltando pra casa e pra ele deixá-la entrar pela janela? Por que? Por que não entrar pela porta? Oras pois!

O tempo passou e fui ficando mais sábia (hahaha!). Um dia, li “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë e fez-se a luz! Tcharã! O nome original é, adivinhem!, “Wuthering Heights” e conta a trágica estória de amor de Heathcliff e Cathy, que descambou num amontoado de ódios, ressentimentos, vinganças e destruição.

Confesso que entender o mistério da música tirou um bocado da graça, além de expor ainda mais claramente a má qualidade da letra, mas fazer o que? A sabedoria tem seu preço....

Dia desses, navegando pelos sites que eu curto, entrei neste, que amo e encontrei uma coletânea dos piores vídeos de dancinhas na web. Hilário. Segue o link para quem quiser rir também. E qual era uma das piores dancinhas? A própria Kate Bush dançando no vídeo clipe de “Wuthering Heights”, devidamente acompanhada por Marcos Mion no programa “Piores Clipes do Mundo”. Só pra não deixar dúvidas, a Kate é a da direita, tá? Segue também a letra e a tradução, pra ninguém perder nenhuma nuance da fantástica interpretação da Kate Bush.



Out on the wiley, windy moors
Lá fora nos pântanos tempestuosos,

We'd roll and fall in green
Nós giraríamos e cairíamos no gramado.

You had a temper, like my jealousy
Você tinha um temperamento como meu ciúme,

Too hot, too greedy
Ardente demais, ávido demais.

How could you leave me?
Como você pôde me abandoner

When I needed to possess you
Quando eu precisava possuir você?

I hated you, I loved you too
Eu te odiei, eu te amei também.

Bad dreams in the night
Sonhos ruins à noite,

They told me I was going to lose the fight
Eles me revelaram que eu perderia a briga,

Leave behind my wuthering, wuthering,
Deixaria para trás meus tempestuosos, tempestuosos

Wuthering Heights
Morros tempestuosos

Heathcliff, it's me, your Cathy I am coming home
Heathcliff, sou eu, Cathy, estou voltando para casa.

I'm so cold, let me in your window
Sinto tanto frio, me deixe entrar em sua janela.

Oh it gets dark, it gets lonely
Oh, fica escuro, fica solitário

On the other side from you
Do outro lado, longe de você.

I pine a lot, I find the lot
Eu sinto tanta saudade, eu percebo que o destino

Falls through without you
Fracassa sem você.

I'm coming back love, cruel Heathcliff
Estou voltando amor, cruel Heathcliff,

My only one dream, my only master
Meu único sonho, meu único senhor.

Too long I roam in the night
Há muito tempo eu vagueio pela noite,

I'm coming back to his side to put it right
Estou voltando para o lado dele, para consertar isso.

I'm coming home to wuthering, wuthering,
Estou voltando para casa, para os tempestuosos, tempestuosos

Wuthering Heights
Morros tempestuosos

Heathcliff, it's me, your Cathy I am coming home
Heathcliff, sou eu, Cathy, estou voltando para casa.

I'm so cold, let me in your window
Sinto tanto frio, me deixe entrar em sua janela.

Oh let me have it, let me grab your soul away
Oh, me deixe possuí-la, me deixe levar sua alma embora.

Oh let me have it, let me grab your soul away
Oh, me deixe possuí-la, me deixe levar sua alma embora.

You know it's me, Cathy
Você sabe que sou eu, Cathy.

Heathcliff, it's me, Cathy I am coming home
Heathcliff, sou eu, Cathy, estou voltando para casa.

I'm so cold, let me in your window
Sinto tanto frio, me deixe entrar em sua janela....

Séries e mais séries

Tem história...

Comentei meio por cima que andei assistindo uma série excelente: "The Tudors". E você vê que uma série é excelente quando a temporada acaba e os espectadores não se conformam. A série tem sido exibida pela People and Arts e a primeira temporada teve apenas 10 capítulos. Quando acabou, um monte de gente postou reclamações iradas no site da emissora. Eles não acreditaram que aquele tinha sido mesmo o fim da temporada e que agora, dançou, só ano que vem (no caso, 2008).
Tudo bem que o Henrique VIII da série é meio bonitão e sarado demais. Sei lá se a estória é coerente com a história (aliás, who cares?). Mas é tudo muito bem feito, dramático e sexy (e eu que só fui descobrir agora que aos domingos passava a versão "sem cortes" do dito cujo... é pessoas, versão sem cortes, imaginem vocês...).

Tem mistério...

E Heroes? Que finalmente, aleluia, aleluia, volta a passar dia 11 de janeiro? E Lost? São as melhores séries de mistério. Teve um período que eu dei uma desencanada de Lost, achei que estavam perdendo a mão e fui assistindo meio no automático. Mas daí veio o último capítulo da temporada e a redenção. Os caras são bons mesmo, apesar de terem matado o Santoro tão cedo, deixando a ilha bem menos gost.... digo bonita.
Agora, quero, preciso saber o que aconteceu com aquele povo todo. Hiro Nakamura voltou pro Japão medieval? Jack saiu mesmo da ilha? Peter e Nathan morreram? Quem eram as pessoas no barco? E aquele pé gigantesco com 4 dedos?

Tem bobeira...

Não sei se vocês concordam comigo, mas todo mundo precisa esvaziar o cérebro de vez em quando. Nestes momentos, temos duas opções: série humorísticas e bobeirol. Os humorísticos nunca mais foram os mesmos depois de "Friends". Até que tentam e de quando em quando surge um "Two and a half man" ou um "How I met your mother"... mas ainda não compensaram a falta que Joey, Ross, Monica, Rachel, Phoebe e Chandler fazem. Já no bobeirol ninguém bate "Girls of the Playboy Mansion". É ótimo. É engraçado. Você vai assistindo e quase dá pra sentir o cérebro sendo esvaziado. Só sobra aquele pensamento : "é bom ser Hugh Refner....".

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

BBB

Pois é. Lá vem. Eu sempre começo dizendo que não assisto. Que é perda de tempo. E outros quetais. Mas daí.... Bom, sabe como é. Estou zapeando e acabo passando por lá daí acabo ficando meio interessada, daí assisto um pouquinho aqui, outro pouquinho ali. Mas meu interesse é puramente sociológico e comportamental. Claaaaaro!
Vamos lá: quem não gosta de uma boa fofoca? Só que pessoas civilizadas e educadas e gentis não ficam futricando a vida alheia. É feio. Exceto... se o outro permitir. Aliás, se o outro pedir que você xerete sua vida, expondo-a no horário nobre. É irresistível, não é? Eu acho.
Acho também que algumas edições são meio chochas (é assim que se escreve?). Os participantes tentam ser certinhos, politicamente corretos e daí trata-se simplesmente de escolher o menos mala (ou o mais "necessitado" - odeio isso). Mas algumas são excelentes. Tem que ter um vilão, alguém mal-intencionado, duas caras, maquiavélico (estilo "senado", sabe como é?). Tem que ter uma bitch, uma bonitinha, egoistinha, folgadinha, que todo mundo ame odiar, mas que não sai porque o público masculino não deixa. Tem que ter um punhado de bocós que se agrupem em torno de um e de outro. Tem que ter um grupo de bonzinhos que lave a louça, limpe a casa, seja injustiçado (tipo Cinderela) e que, no fim, seja salvo pelo público.

Vou lá buscar a pipoca.

Coisas que li - parte 2

Um dos melhores livros que li nos últimos tempos foi "O Sonho de Cipião", de Iain Pears. E aqui cabe uma confissão: comprei o livro pela capa. Sei lá porque, ela me chamou a atenção. Cores delicadas, um primeiro plano em preto e branco, uma paisagem colorida ao fundo, uma estátua feminina espiando a paisagem através de uma fina cortina. Gostei e comprei. E foi uma grata surpresa. A estória é extremamente interessante e bem escrita. São 3 estórias que se passam no mesmo local, na mesma região em tempos diferentes e que são interligadas por um antigo manuscrito. As 3 estórias são narradas ao mesmo tempo e falam sobre decisões morais em momentos de crise, sobre a escolha entre os interesses pessoais e o coletivo. A primeira delas se passa nos momentos finais do Império Romano, a segunda, na Idade Média, no auge da peste negra e a terceira, durante a Segunda Guerra Mundial. Não dá para parar de ler.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Coisas que li - parte 1

Terminei 2007 lendo dois bons livros. Tristes, tristes.... mas bons. E trata-se de uma tristeza construtiva, digamos. Explico: você vai lendo o livro, vai lendo, e o seu coração vai se encolhendo, o dia nublado vai parecendo mais escuro e frio, e você vai se intoxicando de uma dó terrível pelos personagens. Daí, próximo do final, você vai vendo que todo aquele sofrimento teve uma função, trouxe redenção e, apesar de não ter fim, transformou-se. Vou parar de explicar porque não estou fazendo jus à qualidade dos livros. Foram "O Caçador de Pipas" e "A Cidade do Sol" do Khaled Hosseini. Ambos falam sobre amizade, preconceitos, sobre a vida no Afeganistão sob o domínio talibã, perdas, amor. E de uma forma extremamente realista e dura. As estórias estão expostas sob o sol do deserto, a aridez do enredo arde nos olhos e a secura daquelas vidas sem perspectivas dói na garganta. E no fim... esperança. Muito bom.
Mas agora chega. Vou dar um tempo na temática árabe/talibã e vou ler outras coisas. Estão na minha lista:
- O Vermelho e o Negro (Stendhal) - ando enrolando pra ler há um tempão. Deste ano não passa.
- A Menina que roubava livros (Markus Zusak)
- Los Angeles (Marian Keyes)
- Quando Nietzsche chorou (Irving D. Yalom)
- A princesa leal (Philippa Gregory) - é, andei assistindo "The Tudors"...
- E mais. Não me lembro de mais nenhum por enquanto. Mas aceito sugestões!

Agora vai!

Olá. Seja bem vindo. Não repare na bagunça... sente-se, fique a vontade. Aceita um chá?