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terça-feira, 20 de março de 2012

O neo-egoismo. Ou o egoísmo estendido.


Como você definiria uma pessoa egoísta? O dicionário diz que é “adj. e s.m. e s.f. Que ou o que só se preocupa com os seus próprios interesses.”. Ok. Daí você pensa assim: “ufa, eu não sou egoísta, afinal, me preocupo com os interesses de muita gente: meus pais, meu marido, meus filhos, meus amigos”. Anhé?

Pois eu chamaria isso de egoísmo estendido. Preocupar-me com MEUS filhos, MINHA família, sem me importar com o resto do mundo. Opa, mas eu me importo sim! Faço doações para 3 instituições de caridade e recheio sacolinhas de Natal para crianças carentes todo ano. Sou uma pessoa boa!

Sinceramente? Fazer doações e caridades é, muitas vezes, o pagamento de uma taxa de isenção moral. Pago e posso dizer que eu sou uma pessoa boa. Viu, como não sou egoísta? Nem fiz nada disso pensando em mim. Viu?

O que mostra mesmo quem somos é aquilo que fazemos quando ninguém está olhando. Você usa um serviço e, se não for cobrado se finge de morto e não paga? Egoísta. Você se beneficia indevidamente de alguma facilidade, sabendo que outros vão pagar sua parte? Egoísta. Você arranha o carro do seu lado e vai embora, sem deixar um bilhete com seu telefone? Egoísta. Não importa quanto pague para instituições de caridade, ou quantos lindos gestos faz em público, são esses atos ocultos que definem quem você é.

E podemos ser egoístas travestidos de bom samaritanos o quanto quisermos: o fato é que o mundo é um aquário e não tem como a água ser boa só para mim e minha família. Ou ela é boa para todos, ou ela não é boa para ninguém.

O que eu mais quero no mundo é que meus filhos sejam felizes. Simples assim. E, em prol disso, procuro estar presente e atenta, orientar, ensinar limites e paciência, mantê-los em segurança enquanto os estimulo a serem fortes e capazes de cuidar de si mesmos. Tudo o que está ao meu alcance. Mas,e o que não está ao meu alcance? Sim, porque sei que enquanto existir uma criança no mundo que não seja feliz, ou uma família no mundo que esteja sofrendo, algo está errado no mundo inteiro. O que afeta, inclusive, meu mundinhozinho, tão protegido.

Se quero que o futuro dos meus filhos seja realmente feliz, é preciso pensar na felicidade do mundo inteiro. Desejar a felicidade do mundo inteiro. Agir pela felicidade do mundo inteiro. Importar-se com a felicidade e satisfação de todas as pessoas. Das pessoas que vc ama. Das que vc não conhece. Do motoboy pentelho que te deu uma fechada. De todos. Será que dá? Será que podemos fazer um pequeno esforço diário? E será que esse pequeno esforço diário de cada um consegue mudar o mundo inteiro? Será?
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E este fim de semana, tenho curso de eneagrama. Flechas e asas. Ansiosa pela sexta-feira.

domingo, 11 de março de 2012

meninos e Homens


Nós, mulheres, estamos ótimas. Firmes, fortes e dominando o mundo. Características femininas vem sendo mais e mais valorizadas: é ótimo ser sensível, compreensiva e “cuidadora”. E é ótimo também ser uma mulher com características normalmente associadas ao mundo masculino: firme, decidida, assertiva. Então, seguimos felizes, transitando livremente entre os mundos masculino e feminino, chorando quando dá vontade e saindo na porrada quando necessário. Nem precisamos de um dia internacional, pra falar a verdade, porque, vamos reconhecer, o mundo é nosso.



Quem precisa urgentemente de um dia internacional é o homem. Pobre homem, perdido, infantilizado, dominado pelas mulheres fortes que o rodeiam. Claro que falo aqui de forma muito genérica. Conheço homens equilibrados e em pleno controle de sua vida, mas o fato de serem em número tão reduzido só reforça o fato de serem felizes exceções. No geral, creio que a relação de dominação se inverteu há muito tempo.

Anda difícil ver um homem de verdade por aí. Vejo muitos garotos, alguns perto dos 30, vivendo uma adolescência tardia, com mil inseguranças, sem auto-conhecimento, sem consciência de si, sem noção, sem metas, sem nada, incapazes de cuidar de si mesmos. Vidas vazias, cheias de solidão, buscando uma mulher que lhes dê direcionamento, que substitua suas mães. Claro que não acham. Porque as menininhas que não se incomodam com tanta falta de noção não sabem ser mães. Na melhor das hipóteses, empunham o chicote e os submetem a uma ditadura cor-de-rosa, difícil de identificar e mais difícil ainda de fugir. As mulheres de verdade, que poderiam ajudá-los a encontrar rumo, não querem menininhos inseguros a se esconder atrás de suas saias. Querem homens que cuidem delas.

Pode ser que eu seja só mal acostumada mesmo. Culpa do Fabio. Ele resolve os problemas, encara as situações com clareza, não deixa que eu me preocupe. Quando estou com ele, nunca falo com o garçom, não abro portas, não abro caminho na multidão. Ele o faz. Se conto um problema para ele, ele imediatamente me apresenta algumas possíveis soluções, me dá um banho de realidade e tudo entra nas devidas proporções. É maravilhoso relaxar e poder simplesmente “ser mulherzinha” de vez em quando.
Porém, é preciso dizer, tenho também meus méritos: eu deixo espaço para ele ser quem é. Claro que sei falar com o garçom. Inclusive sei também brigar com o segurança e discutir com o mecânico. Sei xingar tão bem quanto um estivador. Posso abrir portas a pontapés e abrir caminho a cabeçadas. Mas isso tudo cansa tanto, e ele faz tão bem, tão naturamente.

Acho que esta falta de rumo dos homens seja falta de um bom ritual de passagem para a vida adulta. Algo que, lá pelos 15 anos diga “Cara, você não é mais um menino. Agora você é um homem. Aja como um.”. Todas as sociedades primitivas têm um ritual de passagem. Algumas bizarras, muitas dolorosas, todas com o mesmo propósito: botar um ponto final na infância e dar um kick-off na vida adulta. Nossa sociedade moderna não conta com rituais para meninos. As meninas ainda têm um ritual forçado: o corpo mostra que amadureceu. Após a primeira menstruação, não dá pra continuar tratando a mocinha como se fosse menininha. Ela não aceitará mais: o seu corpo já disse que ela pode ser mãe.

Mas os meninos.... saem da infância, entram na adolescência, passam para a vida adulta, sem nenhum indicador, sem nada. Se os pais continuarem a tratá-lo indefinidamente como molequinho, talvez ele nem o sinta. Lembro dos espartanos. Aos 7 anos, os meninos eram mandados para o exército. Eram afastados de suas mães e submetidos a privações e desafios físicos, para moldar e provar seu caráter. Há também uma tribo indígena (não lembro o nome) que afasta o garoto de suas mães aos 7 anos para serem criados pelos homens da tribo. O objetivo é realizar uma imersão no universo masculino e ensinar o garoto a agir como um homem. Após os 20 e tantos anos, o garoto era devolvido para sua mãe e os relatos é de que o relacionamento mãe-filho nessa tribo era muito melhor do que o que se observa em nossa sociedade. O conhecimento de si como homem, tornava o rapaz mais capacitado a ter um relacionamento saudável com sua mãe, com sua esposa e com o resto da tribo.

Tenho um filho. Não quero que ele seja afastado de mim aos 7 anos, isso me parece excessivo e cruel nos dias de hoje. Mas ao mesmo tempo, quero que ele saiba ser homem, conheça a si mesmo, saiba cuidar de si mesmo, que seja independente de mim. Será que quero fazer uma omelete sem quebrar os ovos? Espero que não. Acho que é possível educar um menino, sem sufocá-lo. Prepará-lo para o mundo, para ser ele mesmo, para saber o que quer, para ser decidido. Nem que para isso, eu precise me afastar um pouquinho quando ele fizer 7 anos e ir me afastando aos poucos a medida que ele cresce. Para dar espaço para ele cometer os próprios erros, levar tombos e se aprumar de volta. E quando ele quiser colo, e um beijo no joelho esfolado, vou estar lá, se Deus quiser.