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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Em defesa dos vilões

Sou chegada num vilão. E quem não é? Todo mundo quer ser o mocinho ou a mocinha. Todo mundo quer estar certo. Mas, no fundo, no fundo, todo mundo ama o vilão. Talvez por ele mostrar o que é. Talvez por suas falhas e fraquezas, comuns a todos nós. Certamente nos identificamos muito com eles. Por menos que gostemos de reconhecer.





Seja você quem for
Acho que o bacana sobre os vilões é que eles são autênticos. Este certo desprezo pelas regras e pela moral, em doses homeopáticas, é bem charmoso.
Divido os vilões em dois tipos: os que sabem que são maus e os que acham que são bons.
No primeiro grupo, dos que se assumem maus, temos como exemplo clássico, o Coringa e, aliás, todos os vilões dos super-heróis. Eles são maus e gostam disso. E isto legitima a ação dos heróis. Sua maldade vem, muitas vezes, da revolta diante de injustiças ou fatalidades. E aí entra um componente interessante. Todos nós já nos revoltamos com alguma injustiça, seja ela social ou da vida mesmo. Mas não nos tornamos vilões. E, pensando assim, vem o alívio, a sensação de “ser bom” ou de, ao menos, estar acima de alguma coisa. A sensação de que algo bom em nossa essência é mesmo incorruptível.
No segundo grupo, o dos que acham que são bons, temos o Magneto. Ele não é guiado pela vontade de se vingar ou pelo ódio, muito embora o sentimento de revanche apareça muitas vezes. Ele tem um ideal, o de dar aos mutantes uma existência melhor, o direito de não se esconder. E por este ideal, ele é capaz de tudo. A vilanice, no caso, é questão de ponto de vista, de posição.
Meu bem, meu bem, meu mal
E é nisso que os vilões dão mesmo literalmente uma surra nos mocinhos, nos bonzinhos e demais “inhos”. Um mocinho nobremente abre mão de seu amor, de suas conquistas, de sua felicidade em nome de seus ideais. Um vilão abre mão de tudo isso, e mais ainda. Abre mão dos valores e ações que o tornam uma “boa pessoa” aos olhos dos outros. Os outros... sempre eles. Pois os vilões não dão a mínima para a aceitação.
Por um nada, por um pequeno detalhe, o mocinho se torna um mala. Mas não o vilão. Este é temido, odiado, mas nunca., nunca mesmo, aborrecido.

Aqueles que todos amam odiar
Alguns falam sobre a atração das pessoas pelos vilões como se fosse um fenômeno recente. Mas bons autores já sabiam disso há muito tempo. Vide Emily Bronte em seu O Morro dos Ventos Uivantes. Heathcliff e Cathy, protagonistas do romance, têm todas as características de bons vilões. São egoístas, manipuladores, cruéis. Heathcliff, capaz de explorar o próprio filho moribundo, faz questão absoluta de se vingar de todos os seus desafetos. Ele é incapaz de sentir compaixão ou de perdoar. E talvez, por isso mesmo, a idéia de seu amor por Cathy seja tão comovente.
Há uma coleção de livros infantis chamada “My Side of the Story”. É muito interessante. De um lado do livro, está a história tradicional (A Pequena Sereia, A Bela Adormecida, Cinderella, etc) e do outro a versão do vilão. O vilão explica suas motivações, desfaz mal-entendidos e reconhece suas fraquezas. Muito boa, esta idéia humaniza o vilão e expõe seus pontos de vista.
Voldemort, Dr. Evil, Bafo de Onça, Malvina Cruela, o que seria do mundo sem vocês?

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