Contém spoiler!
Amo a Pixar. Amo Toy Story. Amei Valente.
Quando eu estava planejando levar minha filha para vê-lo no cinema, uma amiga me aconselhou a não levá-la. Disse que era muito triste e que ela tinha ficado meio "mexida" por um bom tempo. Outros amigos disseram ter gostado muito, e que era muito comovente. Já as crianças diziam que era muito divertido e engraçado. E quando enfim consegui assistir o filme, com minha filha, entendi o que aconteceu. Ao final, Isabella tinha curtido o filme, rido bastante e estava muito contente. Eu, estava chorando. Não achei o filme triste, sou do time que achou comovente, mas compreendo minha amiga que viu tristeza.
Toy Story 3 é um filme em camadas. Numa primeira camada, mais superficial, que é "acessada" pelas crianças, é um filme divertido sobre brinquedos em busca de seu dono e que acabam encontrando um novo lar. Numa camada mais profunda, acessada pelos adultos, é um filme sobre obsolescência, velhice, abandono e morte. Assuntos sensíveis e dolorosos, em maior ou menor grau, a todos os adultos.
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E daí tem Valente.
No geral, o que se fala deste filme é que ele é o primeiro filme da Pixar que tem uma protagonista feminina. Merida, a princesa de cabelos de fogo, é a primeira princesa da Pixar. Merida, é a primeira princesa sem príncipe. E isso é tudo.
Mas, novamente, e felizmente, minha filha e eu assistimos a filmes diferentes. Ela, viu um filme sobre uma princesa corajosa que não quer se casar, faz trapalhadas e acaba tendo que salvar sua família. Eu, vi um filme sobre os meandros da relação entre mãe e filha e sobre a essência selvagem feminina.
A rainha Elinor, mãe de Merida, é a rainha sábia, sensata e culta, que exala autoridade e impõe respeito. Aparentemente foi talhada para ser rainha e está sempre perfeita. Cabelos e roupas em perfeita ordem, a palavra certa nos lábios e a atitude correta sempre. Ela educa Merida para ser como ela: a rainha perfeita. Mas Merida... ela é o completo oposto de Elinor. Impulsiva, expansiva, física, tem espírito livre como um animal selvagem, maravilhosamente personificado em seus lindos cabelos vermelhos como fogo e rebeldes como a dona, cheio de cachos indomáveis.
Elinor, é o bom senso que comanda a vida cotidiana. Quem tem obrigações e compromissos tem muito da Elinor. Elinor sabe quem é e sabe seu papel no mundo e sabe o que tem que fazer e faz. Elinor quer fazer o certo e quer o que é certo. Elinor sente que precisa domar Merida, para ser certa. Que mulher nunca viveu este conflito, entre sua essência selvagem e o que é apropriado?
Não sei como os homens e meninos viram o filme, como o entenderam, ou que tipo de filme viram. Será que tem mais uma camada, masculina?