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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Tecnologia e bom senso


Estive dia desses em um dos prédios mais muderrrrnos de São Paulo, o Rochaverá, ao lado do shopping Morumbi. Odeio aquele prédio. Aliás, odeio prédios que parecem eletrodomésticos, com mil utilidades, tudo automatizado, asséptico, frio, gelado. Para mim um prédio deveria se parecer com um prédio e não com uma torradeira. Para mim, um prédio, que contém gente, deveria ser confortável e acolhedor. Mas sei lá. Vai ver sou só eu.

Daí, olha só. O prédio muderrrrno, lindio, inteligentérrimo, possuidor de embiei e tal estava.... sem energia. Sim. O bicho é um gênio. Perfeito. Tudibom. Só faltava ter um gerador. Daí que o estacionamento parecia a sucursal do inferno: escuro, abafado, impossível de se ver qualquer tipo de sinalização. Aparentemente este negócio de luzes de emergência é uma coisa demodê. A situação só não estava pior graças ao fator humano. Os manobristas foram extra-atenciosos e se ofereceram para acompanhar as pessoas pelas escadas até o térreo. Realmente não há substituto tecnológico para o bom senso e a gentileza.

No térreo fomos informados de que nenhum elevador funcionava no prédio. Até então eu achava que eram só os elevadores da garagem que não contavam com gerador. Mas, incrível. Um prédio daqueles, daquele tamanho, com aquela população, com trocentos andares, não contava com um mero gerador para os elevadores. Mas daí vi que a garagem não era a sucursal do inferno. O térreo era.

O hall estava uma muvuca. As pessoas tentavam entrar no prédio, mas aparentemente a falta de energia forçava os recepcionistas a cadastrar os visitantes na mão. Fila. As pessoas voltavam do almoço e pareciam um tanto relutantes em subir 37 andares a pé, vejam vocês. Então ficavam todos amontoados no hall, falando alto, gesticulando, ligando para clientes, todos meio agitados e desorientados.

Daí a energia voltou! E com ela a possibilidade de ser feliz novamente. Imediatamente houve uma corrida em direção aos elevadores. Eu, tonta que só, já meio baratinada com todo aquele zumzumzum, entrei no primeiro elevador cujas portas se abriram. Fui tentar apertar o botão do meu andar e... não tem botão com os andares. Claro que não. Botão é coisa do século passado. E eu fiquei lá com cara de idiota, me sentindo uma perfeita imbecil. Até que algumas pessoas (seres humanos, sempre eles....) ficaram com dó da minha cara de bunda e me falaram para descer no andar deles, apertar o botão do térreo no terminal que fica no hall dos elevadores (claro!), ir até o térreo e de lá, pedir o andar que eu quero no terminal. O terminal, então ia me dizer qual o elevador eu deveria tomar. Tudo bem lógico e intuitivo. E simples, claro, afinal, o objetivo da tecnologia é facilitar sua vida, certo?

E de repente, enquanto eu estava no elevador tive um momento de pânico. E se a energia acabasse novamente? Eu ficaria presa sozinha dentro daquele monstrengo de metal? Se eu apertasse o botão de emergência, conseguiria conversar com um ser humano? Provalvelmente não: ouviria uma gravação. Será que ficaria no escuro? Bem, se não pensaram em colocar luzes de emergência na garagem, teriam se lembrado das pessoas que estariam dentro dos elevadores? Será? Felizmente a porta se abriu. Eu suava frio, minhas mãos estavam geladas. Relutei antes de tentar chegar ao meu andar novamente. Mas, insisti. E consegui, afinal. Mas confesso que nunca senti tanta saudade de uma ascensorista. E daqueles elevadores cuja porta era fechada por uma manivela.
Parece que perdemos a mão da tecnologia. Não me entenda mal: eu acredito em tecnologia. Eu vivo de tecnologia.Trabalho com isso. Mas acredito que o objetivo da tecnologia seja facilitar e simplificar a vida das pessoas. E não para ostentar, pois a tecnologia não faz sentido por si só. "Olhe só quanta tecnologia!", "Os elevadores são de última geração!", "Tudo é automatizado!". E daí,digo eu, se toda essa tranqueira não torna minha vida mais fácil, não me dá mais conforto e nem mais segurança? Muito pelo contrário, me faz sentir uma refém, uma cobaia, um mero detalhe anacrônico dentro do prédio.

2 comentários:

Ewelyn Gomes disse...

Muito bom seu texto, me ajudou em meu trabalho de tecnologia, obrigada.
Beijo

Anônimo disse...

Bem, não tenho nada a ver com o prédio, mas já trabalhei em projetos que envolvessem ele...Muito me surpreende aquele monstro sem energia!!!rs Mesmo porque ele possui dois geradores a gás, enormes, capazes de suportar o predio completamente, um a diesel, para emergencia, que ilumina as escadas e os elevadores (sim, eles possuem um gerador), sem contar a alimentação direta da eletropaulo...
Você chegou a perguntar o que aconteceu??
Parabéns pelo texto, ótimo, porém sem embasamento.
Procure se informar melhor.