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sábado, 30 de agosto de 2008

Homo Burocraticus

A vida no planeta Terra evoluiu, partindo das amebas até culminar com o Homo Erectus e o Homo Sapiens, categoria à qual a maioria de nós pertence. Porém, ultimamente tenho observado um novo espécime: o Homo Burocraticus. Extremamente parecido com o as duas espécies anteriores exceto por pequenos e significativos detalhes.
Fica ereto, como o Homo Erectus, porem sua espinha se dobra muito mais facilmente. Diria-se até que sua espinha seria feita de borracha em lugar de ossos.
Pensa, como o Homo Sapiens e, como ele, é capaz de atividades criativas. Porém, enquanto o Homo Sapiens usa sua inteligência para criar ferramentas que o ajudam a sobreviver, o Homo Burocraticus inventa planilhas e gráficos para justificar e acompanhar a criação das ferramentas. Eventualmente, ele acaba solicitando ajuda de algum Homo Sapiens para criar alguma ferramenta que o ajude a gerenciar suas planilhas. Mas para isso ele acaba criando mais 9 planilhas e 3 formulários.
Um típico Homo Burocraticus é como um vógon, povo extraterrestre descrito no fantástico "Guia do Mochileiro das Galáxias", de Douglas Adams: incapaz de salvar sua própria mãe se não tiver um formulário preenchido e assinado com firma reconhecida, em quatro vias. Um típico Homo Burocraticus pára para pedir informações até em queda livre.
O Homo Burocraticus nunca resolve problemas: ele escala. O homo burocraticus pratica gerundismo mesmo sem conjugar o verbo no gerúndio. Na boca dele, todo e qualquer verbo, em qualquer conjugação, sempre vira gerúndio.
Como o Homo Burocraticus veio depois do Homo Sapiens, ele parece ser uma evolução da raça humana. Mas pelo que se pode observar dele.... sei não. Desconfio que estamos voltando às amebas.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Do que as mulheres gostam

Entrou aqui uma pessoa via Google procurando por "coisas que gostam as mulheres". Como achei fofo e não gosto de decepcionar ninguém, aí vai uma lista de coisas que as mulheres gostam:

1 - Chocolate
2 - Ser compreendida
3 - Discutir a relação
4 - Discutir qualquer coisa
5 - Sentir-se segura
6 - Ter frio na barriga
7 - Ter seus pensamentos lidos
8 - Ter seus segredos (pois é, vai entender...)
9 - Champanhe rosé
10 - Conversar com amigas
11 - Ver vitrines
12 - Comprar sapatos
13- Comprar bolsas
14 - Rúcula e tomate seco
15 - Pêssegos, morangos, cerejas
16 - Perfume
17 - Massagem
18 - Jóias (dã!)
19 - Flores
20 - Daiquiri
21 - Caipirinha de sabores esdrúxulos
22 - Banho de espuma
23 - Ser mimada
24 - Free shop
25 - Gilmore Girls
26 - Drama
27 - Brad Pitt
29 - Musicais
30 - Balanças quebradas que mostrem 10 kg a menos

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Coisas que li - parte 7

Dia 28 de agosto, as 22:00, começa a nova temporada de The Tudors, na People&Arts. Ufa. Aleluia! Enquanto isso, mato minha vontade de assistir lendo sobre o assunto.

Como já havia postado antes, li “A Princesa Leal” de Philippa Gregory. E gostei muito. Desta vez, foi a vez de “A irmã de Ana Bolena”. Que eu não sabia que era o livro em que foi baseado o filme “A outra garota Bolena”.

O que gostei em ambos os livros foi o trabalho de pesquisa. Claro que é um romance e que os fatos históricos fazem concessões em prol do enredo. Mas ainda assim, os costumes e lugares são bem retratados e os personagens, bem construídos. Recomendo. Mas agora vou dar um tempo nos Tudors. No começo do ano eu havia decidido dar um tempo na temática árabe/talibã e consegui. Agora, chega de Tudors. Tudors só na TV.
Se alguém tiver alguma sugestão de livro, manda! Pelamordedeus, só não vale romance espírita.

domingo, 24 de agosto de 2008

Disney e algumas considerações

Fui a Disney no ano passado. Amei. Mais do que eu imaginava. Achei que a viagem seria para minha filha e que eu e meu marido íamos somente acompanhá-la. No fim das contas, não sei dizer quem curtiu e se emocionou mais.
Tudo tem qualidade. Todos os detalhes foram planejados. Tudo funciona a perfeição.
Adoro viajar, e faço questão de variar sempre os destinos. Mas no caso da Disney, tenho uma enorme vontade de voltar, e muitas vezes.

Ficando
Primeiramente o hotel. Ficamos dentro do resort, no hotel mais baratinho: o Pop Century. Maravilhoso. Perfeito para quem está com crianças pequenas e não quer saber de frescura. No lugar de restaurantes sofisticados, tem uma praça de alimentação, com cinco mini-restaurantes de fast food e uma boa área de self-service.
Os restaurantes me surpreenderam pela presença de opções saudáveis, o que se repetiu dentro dos parques. Para mim, após umas 3 viagens para lá a trabalho, Estados Unidos são sinônimo de praticidade e de comida calórica (deliciosa, tentadora, mas ultra-calórica....). Nos restaurantes haviam, claro, os indefectíveis hambúrguer-fritas-pizza. Mas tinha também umas opções muito boas de salada, massas, comidinha caseira (peito de peru com purê e cenourinhas, por exemplo). O cardápio infantil tinha sempre um prato quente com acompanhamento e 2 opções a escolher entre pudim de chocolate, uvas, gelatina, cookies e palitinhos de cenoura. E dava direito a uma caixinha de leite.
Na área de self service tinha uma grande variedade de frutas frescas cortadas em potinhos, cereais, leites, sanduíches prontos, tudo em porções individuais. Mais prático impossível.
O hotel é limpíssimo, organizadíssimo, bem pensadíssimo. É um monstro de tão enorme, com 3 piscinas grandes e climatizadas e projetado de tal forma que todos os quartos têm vista para alguma opção de lazer ou para o lago. O quarto é pequeno para o padrão americano, mas normal para o padrão brasileiro. Tinha um playground muito bonitinho e um outro, aquático do Pateta.

Ir e vir
Dentro do resort há linhas de ônibus, monotrilhos, barcos para chegar aos parques. Os sistema é extremamente eficiente e pontual. Saíamos dos parques na hora do fechamento, junto de uma verdadeira multidão que se dirigia para o ponto dos ônibus. Eu pensava “vamos pegar uma fila enorme....”. Surpresa: tínhamos que esperar no máximo, pelo próximo ônibus. E isso porque, com a Bebella dormindo no colo e nós caindo de cansaço, queríamos ir sentados. E esperar pelo próximo ônibus significava esperar menos de 10 minutos.
Os ônibus foram todos preparados para atender dignamente portadores de deficiências. E não só os ônibus, mas também os funcionários. Atenciosos sem ser condescendentes.

Parques
São quatro: Magic Kingdom, voltado a fantasia, Epcot Center, uma homenagem ao planeta e à tecnologia, MGM Studios, cuja temática é o cinema e Animal Kingdom, voltado à natureza e ao mundo animal.
Os parques são todos maravilhosos. Os shows de encerramento são todos um desbunde. Tudo segue o tema do parque nos mínimos detalhes. Tudo brilha de tão limpo. As filas funcionam, o fast pass funciona, os agendamentos funcionam. Quase não se vê funcionários circulando. Nada que o remeta de volta a feia realidade. Lá tudo é sonho e fantasia. Fuga da realidade? Pode ser. Mas era justamente o que eu estava precisando nas férias.
Os shows são todos pontuais e absurdamente caprichados. O figurino é impecável, as fantasias parecem ter sido feitas ontem.
Não se vê personagens perambulando de lá pra cá. Quando você vê algum personagem ele está sempre acompanhado por algum funcionário e está se dirigindo até o local de autógrafos. Depois dos autógrafos, ele se despede e.... a impressão é que eles somem numa nuvem de fumaça ninja. Mágica.

Planejamento, preparação, execução

Li um livro sobre a Disney na faculdade. A matéria era administração e o livro “Nos Bastidores da Disney”. Comecei a ler de má vontade, como sempre acontece quando leio por obrigação. Sou rebelde. Mas fui pega na segunda página e não consegui largar mais o livro, como raramente acontece quando leio por obrigação. O livro quebrou minha rebeldia, quem diria?
O livro fala sobre o detalhismo e o culto à perfeição que guiam os parques da Disney e que lições eles representam para o mundo dos negócios. Afinal, se alguém consegue administrar e fazer funcionar com tal perfeição um parque, que tal aplicar estes conceitos para administrar um hospital? Ou uma escola? Ou um país?
Duas passagens foram especialmente memoráveis. O sujeito que apresenta a Disney para um grupo de administradores pergunta: qual é o concorrente da Disney? Eles respondem prontamente: os outros parques dos Estados Unidos. Não, errado. Todos os parques do mundo? Não. Todos os empreendimentos de lazer? Não. Cinema, televisão, teatro? Não. Resposta certa: toda e qualquer empresa de todo e qualquer setor ou país com o qual o seu cliente possa eventualmente te comparar. E não é? Sem perceber, eu comparo o SAC de uma empresa com o telemarketing de outra. Eu comparo o atendimento do garçom com o da vendedora de sapatos. Eu comparo a pontualidade do técnico da TV a cabo com o do corretor que vende meu apartamento. A cabeça do cliente funciona assim e uma empresa de sucesso se prepara para ser comparada com todas as outras e superá-las.
Outra passagem é quando o sujeito explica que os funcionários são todos treinados para entender o cliente. Óbvio, não? Mas ele ilustra a idéia com um fato que ultrapassou o óbvio. Um senhor perguntou a um funcionário a que horas começaria a parada das 3:00. Pergunta besta. O que você responderia? Pois o funcionário conseguiu perceber o que o cliente queria saber de verdade e não havia conseguido perguntar. Ele respondeu: “começa pontualmente, porém, para conseguir bons lugares é preciso chegar 40 minutos antes”. Genial. Qual foi a última vez em que você, como cliente, foi tratado assim, com presteza e boa vontade?

E por que isso hoje?
É que acabei de voltar do Princesas on Ice, no Ginásio do Ibirapuera. Fui achando que ia ser um showzinho e só. E foi um desbunde ao estilo Disney. Começou pontualmente as 11:00. Eu tenho este lance com pontualidade que não deixa de ser um certo ranço nipônico, algo do qual normalmente não gosto. Mas o fato é que, eventos para crianças precisam ser pontuais. Discorda? Pois tente manter uma criança ansiosa de 4 anos sentadinha numa cadeira por 15 minutos. Então.
Tudo tão lindo e perfeito que deu vontade de chorar. Tudo bem que eu choro até com comercial de sabão em pó, mas mesmo assim. Figurino lindo, detalhado, perfeito. Ganchos interessantes, detalhes importantes e difíceis sendo resolvidos com criatividade e inteligência. Lindo, lindo, lindo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Acupuntura

Acabei de voltar da acupuntura.
Estou me sentindo uma nova mulher. A agitação de ontem dissolveu-se no ar ao toque das agulhas mágicas do dr. Jou.
Estou até meio zureta. Acho que a agitação, o stress e a ansiedade eram tamanhos que, agora que eles se pirulitaram, estou meio vazia. Com espaço interno, sabe como é?
Minhas costas que estavam duras, feito uma carapaça estão até relaxadas. Meu maxilar idem. O couro cabeludo idem (sim, queridos, meu couro cabeludo estava tenso).
Funciona assim: primeiro passa-se por uma consulta com o dr Jou. Ele segura seus pulsos e, depois de alguns instantes descreve seu temperamento e sua vida com precisão. No meu caso ele disse: "hum... calma e passividade exterior... por dentro ansiedade borbulhante como um vulcão... hum...". Quem me conhece, sabe que o homem acertou. Depois, marca-se a sessão, que pode ser semanal, ou diária, dependendo da necessidade. No meu caso, semanal, portanto não sou um caso perdido.
Cada sessão dura 1 hora. Você chega, é levado até uma salinha fechada e com toda a privacidade. Fica só com roupa de baixo. Deita confortavelmente numa cama. Depois de um tempo, dr Jou chega, e espeta as agulhas. Uma aplicação nunca é igual a outra. Depende do que você precisa no dia. Ele acende uma meia luz e você fica lá, sozinha e tranquila, parecendo um ouriço e ouvindo uma musiquinha relaxante. Não dói e a sensação é ótima. Você dorme, baba, ronca, na boa. Ao fim dos 60 minutos, entra um outro médico, faz uma aplicação de moxa e retira as agulhas.
E você pode sair flutuando.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Olimpíadas

Como sempre, não tenho acompanhado as olimpíadas. Se dependesse de mim, toda e qualquer cobertura de evento esportivo seria um fiasco total. Não entendo muito bem o objetivo. Entendo a importância do esporte. Ir lá, vestir o maiô e nadar. Ou calçar o tênis e correr. Ou jogar bola com os amigos. Ok. Mas sentar o popô no sofá, comer pipoca e ficar vendo um monte de gente se exercitar, sei lá.
Mas que eu realmente não entendo é essa indignação geral com o nosso quadro (hahahaha!) de medalhas (hohohohoho!!!). Por que a indignação? Sério, alguém achava mesmo de verdade que íamos ganhar medalhas? Quando, em toda a história das olimpíadas, houve uma participação brilhante do Brasil? Só se tiver sido antes de Cabral.
E isso por um motivo simplérrimo: ninguém dá a mínima para esporte neste país. Futebol? Ora, futebol é esporte no dicionário, mas na cabeça do brasileiro já virou religião. Então vamos esquecer o futebol, ok? Por enquanto, pelo menos.
Nenhum outro esporte existe por aqui. Nos Estados Unidos, pais esportista por excelência, os astros dos esportes enfeitam as caixas de cereais. Aqui, nas nossas caixas de cereiais, temos um tigre gordo, um urso astronauta e um elefante marrom.
E, se nenhum esporte existe, se os esportistas não têm apoio, não desfrutam de reconhecimento, não têm grana, então, como esperar que role um milagre a cada 4 anos? Como comparar o desempenho de um Phelps, que é um herói em seu país, com um esportista brasileiro anônimo e desacreditado?
E essa coisa toda, que faz parte do espírito coletivodo brasileiro, de sentir dó, de se identificar com os fracos. Ora, isso pode ser até bonito, bacana, mas não combina com esporte. O espírito esportivo é combativo, é competitivo, agressivo. Lembram daquele maluco de saiote que agarrou o maratonista brasileiro (cujo nome, lógico, não lembro) quando este estava liderando a prova em Atenas? Claro que houve uma falha grave na organização. Mas o fato é que, o sujeito estava correndo, vencendo, após anos de preparação e trabalho duro, adrenalina a mil. Surge um biruta de saiote para te abraçar. Cara, dá um empurrão e vai em frente. Faltou gana, vontade de vencer.
Aliás, coisa irritante. Brasileiro sempre perde por pouco, reparou? Sempre somos injustiçados. Acho isso um saco. Sumiu o equipamento da atleta brasileira. No caso, a vara utilizada por Fabiana Murer. A prova tinha que ter sido cancelada. A TV mostrou a atleta sozinha conversando com o delegado da prova, procurando seu material. Ninguém a ajudou. Ninguém na delegação brasileira. Sou uma completa ignorante em assuntos esportivos. Mas ela não tem um técnico, treinador, coisa que o valha? Não há ninguém que acompanhe os atletas para assegurar que a prova seja justa?
Falta apoio? Falta sim. Falta grana? Falta. Falta patrocínio? Com certeza.
Mas também falta apoio popular, interesse. Falta vontade de vencer. Falta gana. Falta combatividade. Falta brigar bonito pela vitória. Sobram justificativas.

Falta ganhar apesar de tudo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Federal 1987

Sabe quando você sabe que é feliz? Pois é.... era eu no colegial.
Não que eu não fosse feliz antes ou depois, mas é que eu tinha a consciência de que aquele momento era especial.
Quem estudou lá sabe.
Eu tinha acabado de sair de uma escola estadual muito ruim, na qual havia estudado minha vida toda. Não havia biblioteca. Nem vestiário. Mal tinha banheiro. Mas o que doía mesmo era não ter biblioteca.
E fui para a Federal. Escola Técnica Federal. Curso Regular de Processamento de Dados. Tive que estudar pela primeira vez na vida. Tomei notas vermelhas pela primeira vez na vida. Quase fiquei de recuperação. E tive acesso a uma biblioteca, a vestiário, semana cultural, olimpíadas escolares. Professores que instigavam, provocavam, empurravam a gente ladeira acima. Professores malucos, visionários, geniais.
Tive 4 anos de matemática, tive cálculo financeiro, desenho técnico, contabilidade, projetos, insônia e ansiedade.
Vivi o clima de faculdade quando tinha apenas 14 anos, sabe lá o que é isso?
Tínhamos liberdade de ir e vir, e éramos cobrados como profissionais.
É tanta coisa a dizer sobre lá, sobre aquele tempo, que sei que estou me atropelando toda.
Mas vamos por partes.

Mestres e mestras
Podíamos faltar. Ninguém corria atrás de alunos gazeteando. Mas havia controle de faltas. Havia um número máximo de aulas que o sujeito podia matar. E éramos cobrados pelo programa de aulas. E como éramos.
A avaliação era a critério de cada professor. E tínhamos professores, normalmente os mais exigentes, que davam prova com consulta ou para fazer em casa. Inicialmente, bobinhos que éramos, achávamos que ia ser moleza. Mas depois da primeira prova com consulta, ficávamos mais espertos. Prova com consulta não era sinônimo de autorização para usar cola. Era sinal de que a prova ia exigir análise e compreensão. Significava que, se você assistiu a aula só de corpo presente e depois decorou o livro, não vai conseguir responder às questões.
Tínhamos professores brilhantes, inesquecíveis, que faziam uma cambada de adolescentes de 15 anos sentirem prazer em assistir 4 aulas seguidas numa tarde de sábado. Caso do Renato, de Técnicas de Programação. Ensinar um bando de adolescentes indisciplinados (redundância...) a organizar o pensamento de forma lógica já não deve ser coisa das mais fáceis. Fazê-lo de forma divertida, então, beira o impossível. Mas o cara conseguia.
E o Sergio, nosso professor de Cobol? Deficiente visual de nascença, memorizava nossos programas, ditados, e apontava os nossos erros com precisão humilhante. Detectava a bagunça antes que tivéssemos oportunidade de começar, percebia quando alguém abria um pacote de biscoitos no fundo da sala e descobria fácil fácil qaun do alguém tinha a cara de pau de copiar o programa de outra pessoa. E isso, no meio de 40 programas.
E tivemos professores odiados, temidos, incompreendidos. Lembro da Marta, especialmente odiada e temida. Quando um garoto disse a ela "puxa professora, eu me esforcei tanto...." ela simplesmente respondeu: "quem se esforça é burro.Quem é bom vai lá e consegue.". Na época, ficamos indignados. Hoje, 20 anos depois, vejo que ela estava apenas constatando o óbvio. O mundo não é sempre justo e só tentar não significa sucesso. Isso certamente não estava no currículo, mas ela ensinou assim mesmo.

E mais
Lembro do meu walkman tocando INXS, Pink Floyd, Whitesnake, Deep Purple, The Cure, U2. Eu sentada num banquinho assistindo o treino de basquete, de rugby, de futebol. Lendo Bizz, Trip e Mad. Lembro do mainframe que tínhamos na escola, um Burroughs 1900, apelidado carinhosamente de Cabeção. Lembro da Semana Cultural, uma semana inteirinha sem aula, mas com presença obrigatória em palestras. Tinha de tudo, inclusive astrologia, filmes alternativos. Foi lá que assisti The Wall, Laranja Mecânica, O Encouraçado Potenkin.
Lembro da cantina, do almoço incomível, do indefectível lanche para tempos de dureza: X-Miséria, vulgo pão na chapa.
Lembro da primeira decisão moral: a classe inteira abandonou a sala quando um professor foi injusto com um colega.
Tínhamos eleição para diretor. O diretor possuía mandanto de 4 anos, após os quais, um novo diretor era eleito por voto direto. O voto direto não existia para presidente, mas para diretor da escola funcionava que era uma beleza.

mais, mais, mais
Era bom não ter preocupações. Talvez o melhor era ter a consciência de que eu não tinha preocupações. Afinal, passar de ano não é uma preocupação. As contas a pagar sim. O aluguel, a fatura do cartão, a faculdade, manter o emprego, ganhar a promoção, fazer o pé de meia. Isso sim, são preocupações. Era bom ter 15 anos, ter 16, 17. Era bom estar apaixonada por um garoto novo a cada semana. Tantas possibilidades, tantas coisas por acontecer me deixavam tonta, inebriada, meio bêbada. Queria o mundo todo de uma só vez e para sempre.

Aquela época foi inesquecível. Aquela escola foi incrível.